quinta-feira, 11 de abril de 2013

Qualidade e educação.


Viemos ao mundo para dar nome às coisas:
dessa forma nos tornamos senhores delas ou
servos de quem as batizar antes de nós”.
(Lya Luft)

Qualidade é um substantivo inerente ao ser humano e a seus afazeres. O ofício de educar, como outros, pressupõem a qualidade, gerada na satisfação e na conquista de aprendizagens protagonizadas por educadores e educandos. O prazer maior nas relações de ensino-aprendizagem está na construção do conhecimento como algo útil, agradável e capaz de desencadear alegria e realização. O educador é um dos maiores interessados em qualidade na educação, pois esta sempre carrega potenciais para sua satisfação (o fracasso dos educandos também representa o seu fracasso).
Quem ganha com a desqualificação da educação pública? Quem ganha quando os professores e professoras não são tratados com a dignidade que merecem? Quem goza de alguma vantagem quando os alunos de nossas escolas saem delas sem as mínimas condições de ler e interpretar o mundo, para melhor inserir-se nele?
É incrível: quando a sociedade se mostra disposta a debater qualidade na educação, os professores/as são atacados e apontados responsáveis pelo insucesso escolar. E o que é mais grave: as peculiaridades de seu ofício começam a ser entendidas como privilégios e não como direitos. E professores que lutam para ampliar ou manter seus direitos são duramente penalizados.
Por acaso professores e alunos estão sendo consultados para a avaliação dos processos educativos nos quais são os principais sujeitos? Para avaliarmos a educação, precisamos legitimidade nos processos avaliativos, a partir de acordos e convencimentos capazes de promover o envolvimento dos sujeitos nas realidades avaliadas. Seres humanos não são passivos como os produtos e suas ações e atitudes sempre remetem à sua liberdade.
Rubem Alves, quando discute “Qualidade em educação”, lembra que “a educação, na medida em que lida com a vida das pessoas e a vida do país, deve ser a área mais rigorosamente testada e é preciso que seja excelente. Entretanto, é aquela em que os testes são mais difíceis e as avaliações, vestibulares e provões quase nada significam: nada garante que a qualidade, medida por critérios acadêmicos numéricos, consiga passar os testes que a vida impõe”.
Alves afirma que as avaliações escolares sempre são anunciadas com a intenção de “consertar a máquina” (a estrutura dos sistemas de ensino). E logo responde: “eu, ao contrário, acho que não há nada de errado com a máquina. Não há o que consertar. Acontece que os alunos, mais precisamente os corpos dos alunos – tem também seus mecanismos de “controle de qualidade”. Se eles não aprendem é porque os seus corpos reprovam a máquina. Seus corpos vomitam o que a máquina lhes enfia goela abaixo. O resultado do “examão” seria a prova disso”. E pondera ainda que nosso corpo só aprende dois tipos de conteúdos: os que dão prazer e os que levam ao objeto de prazer (aqueles com razões para serem aprendidos). “A máquina funciona como deve. O problema é que a comida que ela serve é imprópria para a inteligência”.
Faz bom tempo que os educadores/as reclamam qualidade. Faz tempo que apontam imprópria a “comida” que os governos lhes servem (precarização das condições de trabalho, retirada de direitos e penalizações para quem luta). E isto fere suas inteligências. Por isso pedem um favor: não chamem de inteligência o que se faz na gestão da educação pública. É muito indigesto e está longe de gerar prazer. E já seria ousadia demais!

Nei Alberto Pies, professor e ativista em direitos humanos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário